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domingo, 8 de maio de 2011

Mário de Sá Carneiro-19 de Maio de 1890


Falamos de um dos maiores poetas do Modernismo, na minha opinião.

A poética decadentista sem preocupação literária formal, centrando a sua temática na sua própria existência e no seu profundo pessimismo.

Nasceu em Lisboa em 19 de Maio de 1890, órfão de mãe apenas com 2 anos, foi educado pelos avós na Quinta de Vitória em Camarate.

Em 1900, entrou no liceu do Carmo, começando, então, a escrever poesia. Filho de família abastada visitou muito cedo Paris, Suíça e a Itália, na companhia do Pai, com quem atendendo ás suas inúmeras viagens, não tinha muita proximidade e só muito esporadicamente aconteceu , na sua breve vida de 26 anos.

Transferido, em 1909, para o Liceu Camões, escreveu, em colaboração com Thomaz Cabreira Júnior (que viria a suicidar-se no ano seguinte), a peça Amizade. Impressionado com a morte do amigo, dedicou-lhe o poema "A Um Suicida".

Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1911, mas não chegou sequer a concluir o ano. Muito embora tenha ido mais tarde para Paris para estudar em Sorbonne,não obteve igualmente êxito, porque a vida boémia dos cafés e salas de espectáculo, por certo lhe não permitiu maior dedicação académica

Iniciou, entretanto, a sua amizade com Fernando Pessoa, com quem viria a projectar a revista literária que se viria a publicar com o nome de Orpheu, cujo primeiro número, saído em Abril de 1915 e imediatamente esgotado, provocou enorme êxito no meio cultural português, não suficiente contudo para convencer o pai de Mário de Sá Carneiro a subsidiar o número 3 da revista.

O delírio e a confusão dos sentidos, marcas da sua personalidade, sensível ao ponto da alucinação, que o levara a por várias vezes ter comunicado por escrito o seu suicídio a Fernando Pessoa, que viria a acontecer a 26 de Abril de 1916, num Hotel de Nice, suicídio esse descrito por José Araújo, que Mário Sá-Carneiro chamara para testemunhar a sua morte.

...Um dia, 26 entrou ele no meu escritório como costumava, depois de falarmos uns momentos disse-me - Araújo preciso que você vá hoje a minha casa ás 8 h, em ponto, sem falta. Assim fiz, quando entrei no quarto, notei que ele estava deitado, muito naturalmente perguntei se lhe doía a cabeça; foi então que ele disse - acabei agora de tomar cinco frascos de arseniato de estricnina, peço-lhe que fique - corri logo abaixo a buscar um copo de leite, ao mesmo tempo dizia ao criado para subir com o mesmo, enquanto eu ia ao comissariado procurar um médico e ao mesmo tempo um automóvel para o conduzir a um hospital, tudo isto tinha sido feito rapidamente, quando subi com os dois agentes para o transportar ao automóvel, foi então que presenciei a cousa mais horrível que se pode imaginar. Sá-Carneiro agonizava, congestionado numa ânsia horrível, todo contorcido, as mãos enclavinhadas, momentos depois expirava; nada havia que o salvasse, eram 8 horas e 20 minutos...

(passagem da carta de José Araújo a Fernando Pessoa publicada integralmente em http://www.prahoje.com.br/pessoa)

Deixou a Fernando Pessoa a indicação de publicar a obra que dele houvesse, onde, quando e como melhor lhe parecesse.

Ficam dois poemas dos que mais gosto

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se lançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar. ..

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