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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Acontecimentos no ano de 1891-5ºparte

  • Maio,28-Novo tratado com a Inglaterra
Em 28 de Maio de 1891, foi celebrado um novo tratado entre Portugal e a Inglaterra, que substituirá o acordo assinado no ano anterior.

Mais gravoso ainda para Portugal que o anterior, pois o governo português reconhecia uma nova fronteira em Manica, perdendo zonas mineiras ricas, em troca de possessões inglesas de menor interesse económico.

Portugal prometia construir um caminho-de-ferro da Beira em Moçambique até à fronteira da Rodésia, actual Zimbabwe.

  • Suicídio de Antero de Quental
Nascido em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842, suicida-se na sua terra natal 49 anos depois, a 11 de Setembro, Antero de Quental, representante duma geração, que a partir de 60 e até ai final do século XIX, desempenhou papel decisivo no debate de ideias em Portugal.

Um constante deambular inquieto, entre a sua terra , Lisboa e Coimbra onde viria a formar-se em Direito com 22 anos e onde publica os seus primeiros versos, muito embora sejam conhecidos versos por si escritos ainda criança.

Ali se manifestou o seu espírito rebelde pois participa na fundação da Sociedade do Raio, uma sociedade secreta que se caracteriza por lançar desafios blasfemos a Deus durante a ocorrência de trovoadas.


(No Palácio de Cristal, no Porto, encontra-se com Eça de Queirós, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão. Tiram a fotografia do «grupo dos cinco»)


As conferencias democráticas do Casino Lisbonense, que foram inauguradas em 1871, tiveram a sua participação juntamente com Teófilo Braga,Eça de Queirós,Manuel de Arriaga,Batalha Reis,Oliveira Martins, José Fontana entre outros, que pretendiam agitar a opinião pública para o debate das grandes correntes filosóficas, literárias políticas emergentes na Europa e que viriam a ser proibidas, algum tempo depois.

Foi o principal actor da polémica que ficou conhecida como a Questão Coimbrã ou do Bom Senso e do Bom Gosto, que opôs o grupo de Coimbra integrando alguns dos nomes acima citados, e o grupo de Castilho, constituído por João de Lemos,Pinheiro Chagas, Bulhão Pato e outros.

Em 1874 adoece gravemente, "com uma doença nervosa de que nunca mais pude restabelecer-me completamente. A forçada inacção, a perspectiva da morte vizinha, a ruína de muitos projectos ambiciosos e uma certa acuidade de sentimentos, própria da nevrose, puseram-me novamente e mais imperiosamente do que nunca, em face do grande problema da existência. A minha antiga vida pareceu-me vã e a existência em geral incompreensível", escreve numa carta a um amigo.

Nesse dia 11 de Setembro de 1891, suicida-se no jardim de S.Gonçalo, perto de sua casa, nos arredores de Ponta Delgada, com 2 tiros de revólver, morrendo após uma hora de agonia.

Descansa-se!... se no tédio doloroso de nós mesmos encontramos a força para nos sumirmos, disse Antero a Oliveira Martins e a Vasconcelos Abreu, poucos dias antes de partir de Lisboa para Ponta Delgada. No seu doloroso tédio, Antero de Quental encontra a força e o alento para fugir, para se sumir, para descansar enfim.

Dada a alegada necessidade vital da saída para o mar manifestada pelos ingleses, terá sido essa uma questão que tornou muito polémica a assinatura do referido acordo, naturalmente quer ficaria para segundo plano a avaliação do interesse nacional no desenvolvimento da região da Beira, um porto de mar com a importância estratégica daquele.

O tratado é bastante contestado em Lisboa por ser considerado mais gravoso para Portugal do que o anteriormente assinado em 20 de Agosto de 1890.

  • Outubro,08-Criação em Lisboa do primeiro Hospital Veterinário.
ste hospital destinava-se a uma dupla função, por um lado banco e enfermaria, ao mesmo tempo que local de ensino.

Este Hospital Veterinario e a Estação Quimico- Agricola de Lisboa, passaram a ser considerados estabelecimentos auxiliares do Instituto, vocacionando-se para o ensino, projectando-se para o efeito aqui criar gabinetes, laboratórios, um museu de máquinas e produtos agrícolas, uma leitaria experimental, oficinas ( Vinicola, Oleicola e de destilação), uma sirgaria, um colmeal e uma biblioteca.

Acontecimentos no ano de 1891-4ºparte

  • Agravamento da situação financeira

A melhoria da situação financeira do País em que Mariano de Carvalho, ministro da Fazenda apostava não acontecia, pelo contrário não parava de se degradar, dizia ele "restabeleça-se amanhã o câmbio do Brasil e a nossa situação económica evidentemente melhorará".

Em vez de melhorar o câmbio brasileiro piorou, arrastando a desvalorização da nossa moeda, rapidamente a cotação da libra triplicou, agravando enormemente o deficit orçamental.

Dificuldades em honrar os compromissos da dívida publica e em socorrer alguns bancos, companhias ferroviárias e coloniais que se encontravam à beira da falência, são evidentes.

A baixa das exportações dos produtos agrícolas e a elevação dos compromissos externos do Estado e das empresas privadas, bem como o crescimento das importações, compunham o quadro negro da degradação financeira.

Embora não se tivesse chegado à situação de bancarrota, o público reagiu activamente, obviamente instigado pela oposição, correndo em massa aos depósitos bancários e à conversão das notas.

O Banco de Portugal ficou sem reservas e os outros Bancos acabaram por suspender os pagamentos, que levou o Governo a impor o curso forçado das notas, que haviam no decorrer deste ano de 1891 desvalorizado em mais de 10%.

Pior que tudo isto é a doença de Lopo Vaz, a sua diabetes foi acolhida no meio político como uma verdadeira calamidade, levando ao desentendimento entre ministérios, tal a sua influência.

João Crisóstomo contudo desconfia que para além da doença , preparam-se os amigos de Lopo Vaz, para a coberto da crise instalada, avançar para um solução de remodelação exclusivamente Regeneradora.

  • Demissão e nomeação de João Crisóstomo-1891

Perante o agravamento da crise financeira o governo de João Crisóstomo apresenta a sua demissão.

Como habitualmente o rei, consulta por escrito José Luciano dos Progressistas e António de Serpa do Partido Regenerador, para além de Lopo Vaz, militante Progressista da chamada Unha Negra a ala esquerda desse partido, com quem El-rei habitualmente se correspondia.

A distribuição de forças políticas mantinha-se inalterável. com maioria Regeneradora na Assembleia, muito embora o governo agora demitido tivesse uma maioria de pastas atribuídas a membros do Partido Progressista.

Os principais partidos não queriam novas eleições, os Regeneradores tinham a maioria, os Progressistas sabiam que novas eleições, podiam alterar toda a situação e ambos tinham medo, do que poderia acontecer com uma maioria do partido Republicano, que todos temiam.

D.Carlos assumiu então a tarefa de organizar um novo governo, chegando a elaborar um novo elenco ministerial, chamando o visconde de São Januário, para o chefiar.

Este bem depressa deixou claro que para ele não bastava a nomeação régia, precisava da bênção dos partidos políticos. Um dos nomes ministeriáveis para D.Carlos era o de Lopo Vaz, que por sua vez impunha como condição também a entrada de Mariano de Carvalho, outro radical, mas bem relacionado nos meios empresariais e que dizia ter planos financeiros para salvar o Estado.

Assim de imediato de esfumou a hipótese São Januário. Mariano de Carvalho era uma personalidade um pouco controversa, oscilando entre o Partido Progressista e Regenerador, era porém muito popular em Lisboa, colocando desde logo como condição para entrar no governo a "comutação das penas dos do Porto", aludindo aos revoltosos de 31 de Janeiro.

O rei mostrava-se intransigente com o nome de Mariano de Carvalho e Lopo desistiu.

Colocada então a hipótese de novo governo de António de Serpa, que propunha uma solução exclusivamente Regeneradora, embora admitisse chamar alguns progressistas "honestos". Lopo Vaz volta a jogar no escuro e convence João Franco, um dos nomes escolhidos por Serpa, a exigir também a entrada de Mariano de Carvalho, o que naturalmente desagradou a António de Serpa.

Finalmente a 21 de Maio de 1891, conseguiram que João Crisóstomo aceitasse ser reconduzido,num governo com Lopo Vaz no Ministério do Reino e Mariano no da Fazenda.

Lopo não se conteve terá dito "comi o Serpa e o José Luciano", mas na verdade também havia apanhado o rei. O novo governo ficou então assim constituído
Lopo Vaz de Sampaio e Melo substitui António Cândido no reino e passa a exercer a pasta de ministro da instrução pública, então restaurada.
Alberto António de Morais de Carvalho substitui António Emílio Correia de Sá Brandão na Justiça.
Mariano de Carvalho substitui Augusto José da Cunha na Fazenda.
Júlio de Vilhena substitui António Enes na Marinha e Ultramar.
Conde de Valbom substitui José Vicente Barbosa do Bocage nos Estrangeiros.
João Franco substitui Tomás Ribeiro nas Obras Públicas

Os apoios da Fazenda, a empresas privadas, em especial a Companhia dos Caminhos de Ferro, são o mote, para a queda de Mariano de Carvalho na remodelação que se irá seguir.

Acontecimentos no ano de 1891-3ºparte

  • Abril,12-Manifesto dos exilados republicanos

com insultos ao rei, assinado por Sampaio Bruno, declaravam o rei antipático por mil motivos, era mau filho, por se terem visto sorrisos na cara quando do funeral do rei D.Luís seu pai. Faltou às exéquias preferindo matar veados na tapada da Ajuda. Incluíam também o seu casamento no insulto, pois tinha casado com a filha duma raça funesta e jesuíta e até o seu apelido Simão, era ridículo, para não falar no seu nome Carlos, igual ao dos últimos Stuarts.Desta salganhada panfletária, se alimentou durante décadas a intelectualidade Republicana

  • Abril,21-Morte de Elias Garcia

Elias Garcia, político, jornalista, professor, coronel de engenharia e grão mestre da Maçonaria, desempenhou um papel fundamental na divulgação e luta pelos ideais liberais e republicanos, fundando e colaborando em diversos jornais republicanos como "O Trabalho", "O Jornal de Lisboa" e "Democracia Portuguesa" onde, pela primeira vez, foi publicado o primeiro programa republicano.

Presidente e vereador da Câmara Municipal de Lisboa, entre outros contributos importantes na área do ensino, instituiu o ensino da ginástica e de canto coral nas escolas e criou as bibliotecas populares.

Não menos importante foi o seu papel na maçonaria portuguesa, de que foi grão-mestre, tendo contribuído para a fusão das corporações maçónicas portuguesas e para a clarificação do seu papel na sociedade portuguesa.

José Elias Garcia morreu , com 60 anos de idade, pobre, tendo sacrificado todo o seu dinheiro em defesa dos seus ideais, quer ajudando o partido republicano, quer financiando o "Democracia Portuguesa", jornal por ele fundado e que muito acarinhou, tendo constituído um espaço privilegiado de divulgação dos ideais republicanos e democráticos

terça-feira, 10 de maio de 2011

Acontecimentos no ano de 1891-2ºparte

  • Março,20-Parlamento aprova empréstimo público associado ao contrato de tabaco.

Empréstimo concedido ao Estado por financeiros portugueses,franceses e alemães em troca do monopólio do tabaco. Condição exigida por esses financeiros para concederem o empréstimo de 36.000 contos. Do lado português destacam-se Henry de Burnay e a Casa Fonseca, Santos e Viana, do lado estrangeiro predominava a Comptoir National d Escompte de Paris

  • Março,23-Augusto Fuschini líder da esquerdista Liga Liberal diz no parlamento-”só o Rei pode salvar a nação
Este sentimento de começar nova vida, estava um pouco enraizado na comparação com Guilherme II da Alemanha que em 1890 depusera o poderoso Bismark no poder desde 1862 e anunciou um novo curso para a vida política na Alemanha
  • Março.24-Aprovação de uma lei que garantia a jornada de trabalho de 8 horas e fixava uma tarifa de salários mínimos.

31 de Janeiro-as repercussões

As repercussões da revolta do 31 de Janeiro, foram à portuguesa, nada aconteceu de verdadeiramente significativo, toda a gente procurou diminuir a importância do acontecimento.

O governo a negociar um grande empréstimo externo, (como viria a acontecer, por financeiros franceses, alemães e portugueses, em troca do monopólio do tabaco), não lhe interessava transmitir a ideia dum país instável.

O directório do partido republicano apressou-se a condenar o golpe, como irresponsável. A maçonaria irradiou Alves da Veiga, o general Correia da Silva, que se oferecera para chefiar o movimento, mas que afinal pecou por ausência, foi punido com um mês de detenção.

Em Elias Garcia que fornecera os "fósforos", para atear a conspiração, ninguém tocou.

Haveria de sobrar para 600 soldados (bem à portuguesa) a acusação pelo golpe , que haveriam de vir a ser julgados a bordo de 3 barcos de guerra ancorados em Leixões, que provocaria, devido à ondulação, o enjoo dos juízes, que frequentemente se levantavam dos julgamentos para ir vomitar à amurada.

As sentenças foram encaradas, como simples pretextos para futuros perdões e amnistias, Perante o tribunal um dos detidos o capitão Leitão declarou logo "conto não cumprir a pena a que me condenarem"(segundo Rui Ramos em D.Carlos pag.75).

Aparentemente porém as condenações não foram assim tão leves, numa primeira análise.

Seriam condenadas a penas entre 15 anos e 18 meses de prisão mais de duzentas pessoas.

A publicação de «A República Portugueza» foi suspensa, transformando este vibrante diário de combate numa das primeiras vítimas daquele dia 31 de Janeiro de 1891.

João Chagas foi deportado para África, mas que viria a fugir para o Brasil. Sampaio Bruno partiu para o exílio, mas 2 anos de pois já estava de volta a Portugal.

A revolta de 31 de Janeiro de 1891 no Porto


(proclamação do novo regime feita a partir da varanda da Câmara Municipal do Porto)

No dia 31 de Janeiro de 1891, pelas duas horas da madrugada, vários regimentos de cavalaria, infantaria, caçadores e guarda fiscal convergiram no Campo de Santo Ovídio. Ao mesmo tempo, no quartel de infantaria 18, na actual Praça da República, duas companhias arrombaram as portas do aquartelamento e juntaram-se aos revoltosos.

Assim começou a primeira tentativa de implantação da República.

Alguns dias depois do programa do Partido Republicano ter sido aprovado num congresso iniciado a 5 do mesmo mês, que decorreu igualmente na cidade do Porto.
Esse programa havia sido elaborado por Bernardino Pinheiro,Azevedo e Silva,Francisco Homem Cristo, Jacinto Nunes,Manuel de Arriaga e Teófilo Braga.

Programa que propunha dois aspectos fundamentais a organização dos poderes do Estado e a fixação das garantias individuais, reforçando as vertentes nacionalista e interclassista do partido e o reforço da vertente cultural fundamental na consumação do ideal republicano.

Neste congresso havia sido apeado do poder José Elias Garcia, passando a chefia do partido para Manuel Arriaga e para o tenente Homem Cristo, considerando-se a vitória duma linha "revolucionária" contra a corrente "evolucionista".

O Historiador Rui Ramos, considera que o "animador" deste golpe foi mesmo Elias Garcia,que por ter sido destituído do poder,para os embaraçar animou esta conspiração, dirigida pelo maçon Alves da Veiga e por um jornalista de nome Santos Cardoso, mas mantendo o novo directório do Partido Republicano à margem da conspiração.

Segundo o historiador Joel Serrão o golpe, “foi efectivada por sargentos e cabos e enquadrada e apoiada pelo povo anónimo das ruas e foi hostilizada ou minimizada pelos oficiais, pela alta burguesia e até pela maior parte da inteligência portuguesa."

O golpe, correu mal, tropas e povo foram escorraçados num banho de sangue Rua de Santo António (hoje chamada 31 de Janeiro)abaixo pela guarda municipal instalada nas escadarias dos balaústres da igreja de Santo Ildefonso.

A República tinha durado uma manhã, proclamada por Alves da Veiga na varanda da Câmara.

Cerca de 1000 soldados arrastados para a luta pelos sargentos, sem comando previa e organizadamente definido (um general reformado, “apalavrado” nunca apareceu), acabaram por ser comandados por um capitão (Leitão), ajudado por um tenente(Coelho) e um alferes (Malheiro) que segundo José Augusto Seabra “iam às ordens dos chefes civis empolgados mas pouco preparados para o combate às armas”.

Acontecimentos no ano de 1891-1ºparte

  • Janeiro, 5-José Elias Garcia é afastado do directório no congresso do Partido Republicano.

Membro fundador deste partido, esteve presente no jantar realizado no Hotel dos Embaixadores, em Lisboa, que marcou o início do Partido Republicano, representando a ala mais moderada, foi presidente desse partido entre 1883 e 1891. Não sendo naturalmente os tempos conturbados do Ultimato, favoráveis a posições mais moderadas

* Janeiro, 10 - João de Azevedo Coutinho regressa de África,

Sendo vitoriado em especial por estudantes radicais.Tratando-se dum militar, era importante para a causa oposicionista republicana, encontrar um caudilho militar que conduzisse uma viragem política. Nunca o conseguiram, porque duma maneira geral os "heróis africanos", sempre se mantiveram fiéis ao regime.

domingo, 8 de maio de 2011

O Governo extra-partidário de João Crisóstomo,

Após 28 dias de crise governamental, João Crisóstomo, apoiado pela Liga Liberal de Augusto Fuschini, foi nomeado para chefiar um governo extra-partidário.

A constituição deste governo foi bastante heterogéneo composto por personalidades de grande relevo. O octogenário João Crisóstomo acumulou a chefia do governo com a pasta da guerra.

António Cândido, transmontano de Amarante, conhecido como a "Águia do Marão" em clara alusão aos seus talentos oratórios, doutorado em Direito e Teologia, pertencia ao Partido Progressista, foi atribuída a pasta do Reino, tradicionalmente a pasta mais importante, muito embora a actualidade dominada pela "questão inglesa", tenha feito sobressair outras.

António Enes. lisboeta, formado no Curso Superior de Letras, foi um político, jornalista , escritor e administrador colonial português, que se destacou em Moçambique, dele se pode dizer hoje ser de certo modo um "ideólogo"da União Europeia, pois já em 1870 havia defendido a criação dos Estados Unidos da Europa, embora a sua preocupação principal, fosse o temor de Portugal ser absorvido pela Espanha.Foi nomeado Ministro da Marinha e Ultramar

Foi membro destacado do Partido Histórico e da Maçonaria, tendo aderido após o Pacto da Granja à causa Progressista , ficando como redactor principal do jornal "O Progresso", afecto aquele partido.

Tomás Ribeiro, beirão,exerceu advocacia durante algum tempo, cedo enveredando pela carreira política, que desenvolveu a par da sua carreira literária. Castilho chegou a considerá-lo superior a Luís de Camões.Foi-lhe atribuída a pasta das Obras Públicas.

Para José Vicente Barbosa du Bocage,madeirense, médico, filho dum primo do poeta, a importante pasta dos Negócio Estrangeiros. Curiosamente deixou a prática da Medicina, para se dedicar ao estudo da Zoologia. Já havia tido experiência anterior atendendo a que Fontes Pereira de Melo, lhe havia atribuído em 1883 a pasta da Marinha e Ultramar.

A pasta da Fazenda foi entregue a José de Melo Gouveia, com larga experiência governativa em elencos presididos por Duque de Ávila, a ele se deveu o patrocínio da expedição a África de Serpa Pinto, Capelo e Ivens, muito embora apenas tenha estado em funções menos de um mês, sendo substituído por Mariano de Carvalho

António Emílio Correia de Sá Brandão na justiça, jurista e maçon, fechava o elenco, apresentava largo curriculum como deputado e governador civil de Coimbra.

Este novo governo começou por repudiar o tratado de 20 Agosto, mas o desenrolar dos acontecimento mostrará que a questão do relacionamento com a Inglaterra, era um caso difícil de contornar. Existia sempre a temor dum ataque da South African Company, impor a lei da força e em definitivo anexar as nossas possessões.

Acontecimentos do ano de 1890-4ºparte


(Augusto Fuschini)

  • Uma nova formação chamada Liga Liberal

A movimentação política partidária, por causa da "questão inglesa", não parava de criar novas situações e protagonistas.

Em Setembro de 1890, surge uma nova formação chamada de Liga Liberal, formada maioritariamente por imensos oficiais do exército, que só numa reunião no Teatro de S.Luís, participaram cerca de 400 oficiais fardados.

A Liga Liberal era nessa altura presidida por Augusto Fuschini, um engenheiro da Companhia Real de Caminho de Ferro, quer em 1881 havia sido eleito deputado pelo partido Regenerador,que havia acompanhado Barjona de Freitas para a Esquerda Dinástica, após a morte de Fontes Pereira de Melo.

Professando opiniões socialistas defendendo a causa do operariado, tinha nesta altura como objectivo pressionar o governo no sentido da defesa dos legítimos interesses de Portugal.

A fórmula política só por si era um pouco vaga,mas naquele tempo qualquer coisa servia para por em causa as decisões do governo e obviamente o Rei, responsável pela sua nomeação e manutenção em funções.

  • Setembro,25-Manifestação em Coimbra pela libertação de António José de Almeida

Em 23 de Março de 1890 António José de Almeida havia publicado no jornal académico "O Ultimatum", um artigo Bragança, o último, que produziu enorme eco no país,tendo sido o autor processado. Foi defendido pelo Doutor Manuel de Arriaga mas foi condenado a três meses de prisão o que espalhou o seu nome, por todo o País, quando até aí era apenas conhecido entre os condiscípulos.

  • A demissão do governo de Serpa Pimentel

Em 15 de Setembro o Tratado é apresentado na Câmara dos Deputados, pelo ministro dos Estrangeiros Hintze Ribeiro, onde uma larga maioria Regeneradora, alinhou nos protestos contra o Tratado e que levou Ribeiro a demitir-se.

Entretanto D.Carlos convalescia em Sintra, dum tifo que apanhara em Agosto, aparentemente após uma viagem a Tróia, só regressando a Lisboa 13 de Outubro.

Apenas dois dias depois António de Serpa Pimentel apresentou-lhe o pedido colectivo de demissão do governo por ele presidido.

A solução inicialmente apresentada a D.Amélia e a D.Maria Pia, após a demissão de Hintze Ribeiro, a passagem de Lopo Vaz para a pasta do Reino, e a acumulação dos Negócio Estrangeiros nas mãos de Pimentel, não colheu as simpatias nem do próprio proponente, que assim via o seu rival partidário Lopo Vaz apoderar-se da pasta mais importante do governo.

Preferiu assim apresentar a demissão colectiva.

Teve pois em Setembro, D.Carlos que arranjar uma nova solução governativa.

Pensou inicialmente na manutenção dos regeneradores no governo, chamando Martens Ferrão, embaixador em Roma, mas a solução acabou, por ser o recurso a um outro octogenário João Crisóstomo de Abreu e Sousa que, vai formar um governo que passaria por uma solução não-partidária conforme os Progressistas lhe haviam exigido logo em Janeiro. apoiado agora também pela Liga Liberal.

Acontecimentos no ano de 1890-3´parte

  • Inauguração do Coliseu dos Recreios em Lisboa
O actual Coliseu dos Recreios é herdeiro do Coliseu que existiu no Passeio Publico, os Recreios Whitoyne, e que se destacou por apresentar récitas de grande qualidade para um público mais popular, como foi, a 10 de Junho de 1884, a execução da cantata Patrie, de Alfred Keil

Quando em 1887, Pedro Monteiro, António Macieira, Santos Taveira e Gregório de Almeida fundaram a nova Empresa de Recreios Lisbonense, convidaram os accionistas do antigo Coliseu Whitoyne, entre os quais se encontrava o rei D.Carlos, para se juntarem com o objectivo de construir uma grande sala de espectáculos popular, que encenasse espectáculos de qualidade a preços acessíveis.

Os terrenos foram adquiridos em 1888 e o projecto encomendado aos engenheiros Goulard, pai e filho, e ao mestre Manuel Garcia Júnior. A decoração dos interiores foi entregue ao cenógrafo Eduardo Machado que pela primeira vez desenhou candeeiros eléctricos, em vez de candeeiros a gás, para iluminação de palco.

O arquitecto Cesare Ianz, responsável pela fachada do edifício, última parte concluída, e a que os motivos decorativos em reboco e algumas carrancas, lhe aumentaram a grandiosidade que ainda hoje se pode admirar.

A cúpula de ferro, com 25 metros de raio, foi encomendada na Alemanha, à Firma Hein Lehemann e Cª, e colocada no dia 11 de Novembro de 1889. Engenheiros e operários vindos daquele país orientaram a colocação da gigantesca concha de ferro que pesava mais de 100 toneladas.

No dia 14 de Agosto de 1890, com o Coliseu ainda em obras, fez-se o primeiro espectáculo a que assistiram cerca de 5 mil pessoas. O Diário de Noticias noticiou a inauguração: “O Coliseu dos Recreios é, pois, uma sala de espectáculos que honra a nossa capital, não havendo melhor no estrangeiro, e poderá ser aplicada para exposições, exercícios militares, touradas, etc.”.

E assim aconteceu, a polivalência do Coliseu permitiu que ao longo dos tempos fossem apresentados os espectáculos mais díspares, desde a ópera e opereta, passando pelo Circo, música clássica, rock, e a música popular portuguesa.

Fonte: Revelar LX

  • Tratado de 20 de Agosto de 1890
Este tratado assinado entre Portugal e Inglaterra, teve por fim delimitar as possessões portuguesas ao norte do Zambeze e se reconhecia em todos os territórios africanos de ambos os Países a liberdade religiosa de culto e ensino, acentuando a liberdade recíproca de navegação e comércio nos rios e se proclame inteiramente livre para os navios de todas as nações a navegação no Zambeze, Chire e seus afluentes.

Assim se confirmava a perda de tudo o que Portugal já havia sido obrigado a abandonar pelo Ultimato, como ainda se abria mão de territórios não contestados ao norte e ao sul do Zambeze e se facultava um novo campo à colonização inglesa.

A assinatura deste tratado foi considerado como mais uma humilhação infligida pela Inglaterra a Portugal, dando origem a uma nova onda de manifestações de protesto.
(retirado de História de Portugal em datas de António Simões Rodrigues)

Como aconteceu quando da afronta do Ultimato, cada partido pensou sempre mais na forma como poderia retirar dividendos , do que na apregoada afronta a Portugal. Difícil seria uma oposição firme de Portugal ao poderio inglês, quando as carências financeiras já para não falar nas diferenças de dimensão territorial e demográfica entre ambos, nem permitiam criar condições para a manutenção duma carreira fluvial permanente com as possessões africanas.

Os ingleses tinham continuado após o Ultimato exigindo uma solução para os problemas coloniais, ameaçando que, no caso de não ser possível um acordo bilateral, entregar a resolução do problema à poderosíssima British South African Company, fundada por Cecil Rhodes e que se tornara entretanto chefe do governo da província do Cabo.

Esta solução atemorizou o governo português. Significaria uma guerra, impossível de ganhar e que traria provavelmente no imediato a perda integral, pelo menos do território de Moçambique.

Hintze Ribeiro, ministro dos Negócios Estrangeiros escrevia a D.Carlos, quando da altura da assinatura do Tratado que, os termos "pareceram consentâneo com o bem do País", que quereria dizer que se obtivera o que fora possível com o que por certo el-Rei concordaria, mas que naturalmente a oposição Progressista iria aproveitar para contabilizar a seu favor.

Acontecmentos no ano de 1890-2ºparte


  • O suicídio de Camilo Castelo Branco

Teve uma mocidade aventurosa e apaixonada.

Casou em Ribeira de Pena a 18 de Agosto de 1841 com uma menina de S. Cosem de Gondomar, mais velha do que ele, chamada Maria Joaquina. Pouco tempo depois enviuvou. No meio dos seus labores literários, vieram assaltá-lo novos amores, porém desta vez foi uma paixão mais veemente.

Em 1857 começara a intriga de galanteio com D. Ana Augusta Plácido, duma família distinta do Porto, de que resultou um processo de adultério, a prisão dos dois amantes, uma separação conjugal judiciaria, e a união dos dois através duma vida tormentosa até à morte.

Foi então que escreveu as Memorias do cárcere, em que narra a sua vida na cadeia e a honra que recebera da visita de D. Pedro V.

Pensou depois em ser empregado publico, e em 1862 veio a Lisboa, mas os ares da capital eram prejudiciais à sua saúde, e poucos anos se demorou, retirando-se para a quinta de S. Miguel de Seide, que pertencia a D. Ana Plácido.

A natureza campestre não o pacificou; o isolamento despertava-lhe uma sensibilidade mórbida, que se converteu em nevralgias, que o não deixavam demorar-se num sitio, ora em Braga, no Bom Jesus do Monte, ora na Povoa de Varzim, no Porto, na Foz, tendo apenas um único alivio, o trabalho mental.

Circunstâncias imprevistas agravaram subitamente o seu constante mau estado de saúde; numa viagem de S. Miguel de Seide para o Porto sofreu um medonho descarrilamento de comboio, de que escapou milagrosamente, e foi desse desastre que resultou a doença que veio a terminar pela cegueira.

Desgostos de família aumentaram-lhe ainda os sofrimentos; a morte duma netinha de 3 anos, que muito estimava, a loucura irremediável de seu filho Jorge, e os desvarios perdulários de seu filho mais velho, o levaram ao desespero que lhe sugeriu a ideia do suicídio.

Os amigos tratavam-no com o maior desvelo, procuravam lisonjear lhe as suas antigas aspirações, prepararam-lhe uma glorificação literária; foi-lhe dado o título de visconde de Correia Botelho em 1885, votando o parlamento a dispensa dos direitos de mercê.

Nada, porém, o sossegava; concederam-lhe também em 23 de Maio de 1889 a pensão anual de 1.000$000 réis pelo reconhecimento de escritor, sendo-lhe nesse mesmo ano concedida a sobrevivência da pensão ao seu filho Jorge.

A preocupação do suicídio não o abandonava, contudo, e na ocasião em que soube, pela opinião surpreendida dum médico, que a sua cegueira era incurável, desfechou um revolver na cabeça, e assim terminou a existência acidentada do escritor português que nos seus numerosos romances mais emoções descreveu. Foi no dia 1 de Junho de 1890

Camilo Castelo Branco casou em 9 de Março de 1888 com D. Ana Augusta Plácido, que tinha enviuvado do seu primeiro marido. A morte de Camilo Castelo Branco causou a maior, consternação, e toda a imprensa foi unânime na publicação de saudosos artigos, lastimando a sua falta na literatura portuguesa.

  • Portugal assina o Acto Geral da Conferência Internacional de Bruxelas

O tráfico de escravos africanos, iniciado pelos árabes no século IX, adquiriu grande amplitude com a fixação dos primeiros entrepostos portugueses na África Ocidental, na primeira metade do século XV.

De acordo com as estimativas mais recentes, quatro milhões de escravos africanos foram exportados pelo Mar Vermelho, mais de quatro milhões pelo Oceano Índico e nove milhões pelas rotas de caravanas através do Saara. As cifras do tráfico transatlântico variam de um mínimo de doze a um máximo de vinte milhões de escravos. A estimativa de maior aceitação entre os historiadores é de doze a treze milhões de africanos transportados para as Américas, dos quais o Brasil teria recebido o maior contingente: cerca de três milhões e meio. Calcula-se que um milhão e meio de escravos pereceram durante o transporte através do Atlântico e que um número ainda maior teria falecido antes do embarque. Uma vez chegados ao Novo Mundo, entre 5 e 10% dos africanos morriam logo no primeiro ano. Por volta de 1850, o número total de escravos vivendo nas Américas foi estimado em seis milhões.

Essa formidável sangria humana – incontestavelmente a maior já ocorrida em toda a história – foi responsável pela definitiva fragilização do continente africano.

A repressão ao tráfico, na verdade, somente teve início no século XIX.

No tratado de aliança e amizade entre a Inglaterra e Portugal, assinado no Rio de Janeiro em 1810, o príncipe regente português, declarando-se “plenamente convencido da injustiça e má política do comércio de escravos”, obrigou “a que aos seus vassalos não será permitido continuar o comércio de escravos em outra parte da Costa da África que não pertença actualmente aos domínios de Sua Alteza Real”. Por cláusula secreta do mesmo tratado, D. João, em troca dos bons ofícios da Inglaterra para a restituição a Portugal de alguns territórios, nomeadamente aquele compreendido nos antigos limites da América Portuguesa ao lado de Caiena, comprometeu-se a abolir de pronto todo o comércio e tráfico de escravos nos estabelecimentos de Bissau e Cacheu.

Cinco anos mais tarde, por um tratado assinado em Viena com a mesma Inglaterra, Portugal declarava proibir doravante, a todos os seus nacionais, “o comprar escravos ou traficar neles em qualquer parte da costa da África ao Norte do Equador”. Esse compromisso foi complementado por uma convenção assinada em Londres, em 1817, pela qual se reconhecia à Inglaterra o direito de visita e busca das naus portuguesas, suspeitas de servirem ao tráfico negreiro.

Os tratados de paz de Paris de 1814 e 1815, bem como as Declarações do Congresso de Viena de 1815 e a Declaração de Verona de 1822, reconhecendo que o tráfico de escravos violava “os princípios de justiça e de humanidade”, exortaram os Estados signatários a tomar, cada qual no âmbito de sua competência, as medidas apropriadas para reprimi-lo.

Os tratados de 1831 e 1833 entre a França e a Grã-Bretanha, o tratado de Londres de 1841 e o tratado de Washington de 1862 ocuparam-se da repressão do transporte de escravos africanos por via marítima, estabelecendo poderes recíproco de visita, busca e captura dos navios suspeitos de servir ao tráfico negreiro
.
Em 1835 a Inglaterra, verificando o reiterado incumprimento dessa convenção, conseguiu obter do Brasil a aceitação de alguns artigos adicionais ao texto de 1826. Mas tudo continuou letra morta, levando o parlamento britânico a votar, em 1845, o chamado bill Aberdeen, pelo qual os cruzadores ingleses foram autorizados a apresar os navios negreiros, mesmo em alto-mar, e submetê-lo a julgamento perante as Cortes do Almirantado.

Uma das justificativas britânicas para esse recurso unilateral à força foi o facto de que, pelo tratado de 1826, o transporte ilegal de escravos por via marítima seria considerado um ato de pirataria. Foi apenas cinco anos mais tarde, em 4 de Setembro de 1850, poucos meses depois que o Almirantado britânico havia dado ordem a seus navios de guerra para fazerem a repressão ao tráfico até mesmo em águas e portos do Brasil, que a Assembleia Geral do Rio de Janeiro votou a lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico negreiro e estabelecendo severas punições para os infractores.

Em 1885, com o continente africano praticamente ocupado in totum pelas potências europeias, o Ato Geral da Conferência de Berlim procurou reprimir não apenas o tráfico, como também a própria prática da escravidão. Mas as suas disposições aplicavam-se apenas à região do Congo.

Finalmente, toda essa série de tratados culminou com a assinatura do Ato Geral da Conferência de Bruxelas, 1890, subscrito por dezassete Estados, o qual estendeu as medidas de repressão do tráfico a toda a África negra e criou a primeira organização internacional encarregada de coordenar as medidas repressoras.

Num texto longo, (quase 100 artigos), em estilo de regulamento administrativo, foram tomadas disposições pormenorizadas de protecção à populações autóctones e de repressão ao tráfico negreiro. O acordo admitiu, porém, expressamente, a continuidade da escravidão doméstica, nos países signatários onde ela ainda subsistia.

Não obstante representar um inegável avanço no campo da protecção internacional dos direito humanos, o Acto Geral da Conferência de Bruxelas realizou o consenso da comitas gentium quanto à repressão do tráfico negreiro, no momento em que ele se tornava praticamente insignificante no âmbito mundial.

Os Estados Unidos haviam posto fim ao ciclo escravocrata com a guerra civil de 1860-65. No Brasil, que fora o principal mercado importador de escravos na primeira metade do século, o tráfico reduziu-se drasticamente após a lei proibidora de 1850 e o próprio instituto da escravidão foi abolida dois anos antes da assinatura do Ato Geral de Bruxelas.

Fonte: Fábio Ender Comparato

Mário de Sá Carneiro-19 de Maio de 1890


Falamos de um dos maiores poetas do Modernismo, na minha opinião.

A poética decadentista sem preocupação literária formal, centrando a sua temática na sua própria existência e no seu profundo pessimismo.

Nasceu em Lisboa em 19 de Maio de 1890, órfão de mãe apenas com 2 anos, foi educado pelos avós na Quinta de Vitória em Camarate.

Em 1900, entrou no liceu do Carmo, começando, então, a escrever poesia. Filho de família abastada visitou muito cedo Paris, Suíça e a Itália, na companhia do Pai, com quem atendendo ás suas inúmeras viagens, não tinha muita proximidade e só muito esporadicamente aconteceu , na sua breve vida de 26 anos.

Transferido, em 1909, para o Liceu Camões, escreveu, em colaboração com Thomaz Cabreira Júnior (que viria a suicidar-se no ano seguinte), a peça Amizade. Impressionado com a morte do amigo, dedicou-lhe o poema "A Um Suicida".

Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1911, mas não chegou sequer a concluir o ano. Muito embora tenha ido mais tarde para Paris para estudar em Sorbonne,não obteve igualmente êxito, porque a vida boémia dos cafés e salas de espectáculo, por certo lhe não permitiu maior dedicação académica

Iniciou, entretanto, a sua amizade com Fernando Pessoa, com quem viria a projectar a revista literária que se viria a publicar com o nome de Orpheu, cujo primeiro número, saído em Abril de 1915 e imediatamente esgotado, provocou enorme êxito no meio cultural português, não suficiente contudo para convencer o pai de Mário de Sá Carneiro a subsidiar o número 3 da revista.

O delírio e a confusão dos sentidos, marcas da sua personalidade, sensível ao ponto da alucinação, que o levara a por várias vezes ter comunicado por escrito o seu suicídio a Fernando Pessoa, que viria a acontecer a 26 de Abril de 1916, num Hotel de Nice, suicídio esse descrito por José Araújo, que Mário Sá-Carneiro chamara para testemunhar a sua morte.

...Um dia, 26 entrou ele no meu escritório como costumava, depois de falarmos uns momentos disse-me - Araújo preciso que você vá hoje a minha casa ás 8 h, em ponto, sem falta. Assim fiz, quando entrei no quarto, notei que ele estava deitado, muito naturalmente perguntei se lhe doía a cabeça; foi então que ele disse - acabei agora de tomar cinco frascos de arseniato de estricnina, peço-lhe que fique - corri logo abaixo a buscar um copo de leite, ao mesmo tempo dizia ao criado para subir com o mesmo, enquanto eu ia ao comissariado procurar um médico e ao mesmo tempo um automóvel para o conduzir a um hospital, tudo isto tinha sido feito rapidamente, quando subi com os dois agentes para o transportar ao automóvel, foi então que presenciei a cousa mais horrível que se pode imaginar. Sá-Carneiro agonizava, congestionado numa ânsia horrível, todo contorcido, as mãos enclavinhadas, momentos depois expirava; nada havia que o salvasse, eram 8 horas e 20 minutos...

(passagem da carta de José Araújo a Fernando Pessoa publicada integralmente em http://www.prahoje.com.br/pessoa)

Deixou a Fernando Pessoa a indicação de publicar a obra que dele houvesse, onde, quando e como melhor lhe parecesse.

Ficam dois poemas dos que mais gosto

FIM

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Quase

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se lançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Listas de som avançam para mim a fustigar-me
Em luz.
Todo a vibrar, quero fugir... Onde acoitar-me?...
Os braços duma cruz
Anseiam-se-me, e eu fujo também ao luar. ..

Acontecimentos ano 1890-1ºparte

  • Barros Gomes, na Câmara dos Deputados, pede ao governo a publicação de um Livro Branco sobre o Ultimato britânico.

Aceite o Ultimatum pelo Governo progressista, de imediato o Partido Regenerador, pela voz do seu órgão oficial, A Gazeta de Portugal, excitava a opinião pública contra o Governo e incitava a rua a fazer justiça pelas próprias mãos: «Que se faça justiça a essa gente e que não haja demoras nem delongas.».


Sob o peso triplo da cedência diplomática em relação à Inglaterra, da onda de manifestações populares de protesto patriótico e do desamparo político do outro partido monárquico, já que do republicano não seria lícito esperá-lo, ao Governo progressista resta somente uma saída — a

demissão.


Era a primeira consequência política do Ultimatum e a segunda vez na história de Portugal que caía um governo por motivos de política externa (a primeira tinha sido em 1879, quando do Tratado de Lourenço Marques).


Presente nas Cortes perante a Câmara dos Pares, o Governo progressista, pela voz de Barros Gomes —paladino do Mapa Cor-de-Rosa—, historiava os acontecimentos e justificava a atitude política do seu Gabinete:


  • a forma por que se precipitaram os acontecimentos tornou de todo

    impossível suscitar nesta casa qualquer debate prévio que tivesse podido

  • esclarecer o Governo sob a melhor maneira de dirigir as negociações,

    aliviando assim o fardo da responsabilidade a que ele vergava.»

  • Ouvido o Conselho de Estado, o Governo deliberou «convencido de

    que, em face das circunstâncias, não podia seguir outro caminho [...] sem

    comprometer mais gravemente os interesses da Nação

De qualquer modo Barros Gomes pede ao governo a publicação dum livro brando sobre o Ultimatum Britânico, o que em boa verdade toda a gente sabia que não seria possível a sua publicação, já que de algum modo, desde os partidos políticos à própria casa real, a ninguém interessava o esclarecimento desse assunto a questão era apenas saber como saír desta situação de cara menos suja.


  • Governo prevê a entrega do monopólio dos tabacos


Aquilo que, vinte anos antes, pareceria impossível, a ressurreição do

monopólio, acabou por passar em 1890 perante a passividade geral.


Afinal provara-se que aqueles que tinham defendido que a liberalização não conduziria

à concorrência estavam certos. De facto, quem notasse a atitude magnânima

dos senhores do tabaco em relação à extinção do monopólio não

teria tido dúvidas de que, dentro em pouco, tudo voltaria à anterior situação.

Com ou sem a intervenção do Estado, o monopólio era o destino natural

dos tabacos. Num país pequeno e pobre bastou a força das coisas para


que a concorrência desaparecesse.

Em 1890, depois de uma curta fase de gestão directa, o Estado entregava

o monopólio a privados, por um período excepcionalmente longo, até 1906


Fonte: Maria Filomena Mónica

Negócios e política: os tabacos (1800-1890)