- Comício republicano no Porto
Segundo o jornal Resistência de Coimbra dizia na altura
Realizou-se, como eslava annunciado,no domingo, o comício convocado pelo partido republicano. A grande manifestação popular decorreu no meio do mais vibrante enthusiasmo e deixou no espírito de todos uma viva impressão pelo muito que significa. Toda a imprensa assignala a importância incontestável do comício, importância que tanto mais se affirma quanto ella se distinguiu pela quantidade e não menos pela Qualidade dos que a elle accorreram. Mais de seis mil pessoas, de todas as classes sociaes, animadas do mesmo interesse, vibrando da mesma commoção, assistiram áquella assembléa com uma attenção tam religiosa, que é, porventura, a nota mais significativa, pelo muito querevela. Durante as três horas que durou o comício, era solemne o aspecto da numerosa assembléa, a ouvir de cabeça descoberta as verdades que lhe transmitliam os oradores Duarte Leite, Basilio Telles, Manuel de Arriaga, Jacinto Nunes, Afonso Costa, Brito Camacho e Santos Silva Depois o presidente Nunes da Ponte, interveiu dando por findo o comício, pelo que deixaram de fallar outros oradores que estavam inscriptos. O resultado mais importante do comício, sob o ponto de vista do motivo da sua convocação, foi approvação unânime e calorosa do protesto apresentado pelo sr. dr Darte Leite, trabalho magistral d'um alto valor
- Visita real ao Algarve
Estão no Algarve os Reis e Portugal. Bem vindos sejam!». Foi assim que a imprensa farense, através de O Algarve, saudou a chegada ao Algarve do rei D. Carlos e a rainha D. Amélia de Orleães, no dia 9 de Outubro de 1897.
Interrompendo o habitual tratamento termal da rainha D,Amélia, o casal real visitou aquela província o que não acontecia desde o reinado de D.Sebastião
A visita real ao Algarve, que então já de denominava de província e não de reino, realizou-se entre 9 e 15 de Outubro de 1897, com início na gare de Albufeira, onde os soberanos chegaram de comboio pelas 8 da manhã.
De Albufeira partiriam para Faro, passando antes por Loulé, onde também tiveram recepção oficial. Depois de visitarem todo o Sotavento, Sagres e Lagos, chegariam na noite do dia 12 a Portimão, onde depois de grandiosa recepção pernoitaram no iate D. Amélia, aqui atracado.
Praticamente toda a grande imprensa lisboeta, algarvia e nacional se faria representar na viagem, nomeadamente os jornais Diário de Notícias, O Século, Branco e Negro, e Ilustração Portuguesa, onde encontrámos abundantes alusões ao percurso
Sobre a lenta ascensão até Monchique existem várias descrições nos principais jornais do reino: «Maravilhoso todo este caminho que, partindo de Portimão, subindo sempre, leva a Monchique».
Na Torrinha, limite do termo encontravam-se as várias individualidades concelhias, nomeadamente o administrador do concelho e representante do Governo José Sebastião “da Venda”, o presidente da Câmara Municipal e antigo deputado José Joaquim Águas, o juiz de Direito substituto e conservador do Registo Civil, Dr. Francisco do Rego Feio, o grande proprietário local e deputado pelo circulo de Silves (a que o concelho pertencia), coronel José Gregório de Figueiredo Mascarenhas, vereação, restantes autoridades, figuras de destaque local, povo e pelo menos uma das várias bandas musicais que então havia no concelho. Das restantes filarmónicas, uma estava nas Caldas e as outras espalhadas ao longo do trajecto. Depois das saudações os soberanos seguiram viagem rumo às Caldas de Monchique.
Dando a vez ao repórter, este descreve os «pinhais, sobreiros, medronheiros, grandes moitas de alecrim e de rosmaninho balsâmicos. O cenário agiganta-se, alargam-se os horizontes, cavam-se vales fundos e apertados (…), de espaço a espaço, nas voltas da estrada toda em zig zags caprichosos, entrevê-se pelas abertas dos cimos sobrepostos, a Picota, penedo abrupto de difícil acesso, e que fica ao nascente da Foya, a soberba rainha serrana sempre namorada por grandes massas de nuvens».
Nas Caldas de Monchique os soberanos receberam flores das três filhas do Dr. João Bentes Castel-Branco, médico e concessionário da estância termal, que lhes preparara uma marcante recepção, com visita ao Sanatório Kneipp e uma exposição de artesanato, vestuário e medicamentos naturais.
Não se demorando muito na estância termal, a comitiva continuou na direcção da vila. A nossa fonte é mais uma vez a revista Branco e Negro: «do Banho para cima as rampas são ásperas e avança-se lentamente durante uma hora até à vila de Monchique».
É provável que a visita real, com o seu séquito de ministros e funcionários do Passo tenha chamado a atenção para o escabroso caminho que então levava à vila, uma distância de quatro quilómetros que então se fazia dificilmente em cerca de uma hora. Todavia, a preocupação era maior em relação à estância termal, geralmente frequentada por gente importante, pois, em 1877, chegou às Caldas de Monchique a construção da estrada Portimão/Monchique, pelo processo de macadame. Acompanhando a novidade da estrada teve inicio neste mesmo ano a carreira de diligência para as Caldas, com a periodicidade de três dias por semana.
A chegada à vila deu-se, segundo a imprensa, às 11h45. Lorjó Tavares descreve a vila engrandecida por uma «deliciosa ornamentação toda campesina (…) com as ruas transformadas em tapetes de junco, postes enfeitados a murta, arcos singelos, medronheiros com as suas bagas vermelhas como morangos, festões torcidos a alecrim de que pendiam cachos de flores silvestres, maçãs e romãs, paredes de alto a baixo estufadas de murta e urzes». O texto do Branco e Negro aparece ilustrado com 10 belas e monumentais fotografias da vila, Caldas e Fóia.
À entrada da vila acumulava-se o povo simples, muito dele vindo expressamente do campo para ver o rei. Segundo ressalta da maioria da imprensa, a recepção não terá sido aqui tão calorosa como nas outras terras da província
Fonte:Jornal de Monchique
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